terça-feira, março 22, 2005 

Viajantes


certamente parecia parado
o universo
enquanto os versos
arrumavam amor

certamente, sem rosas, parecia cinzento
o tempo
enquanto caminhávamos
entre os canteiros

os viajantes dessa vida
éramos
cativantes de lágrimas
pescadores de destinos

os cigarros no balcão
as chaves
estradas selvagens
aguardavam lá fora

certamente parecia crescido
o mato
dos terrenos, das casas
cárceres dos donos

certamente era impressão
as palavras
os poemas feitos
enquanto os dias soluçavam

os viajantes passaram
o tempo
dos versos entre aqueles canteiros
mas nada plantaram.


[Nathalia da Mata]

sexta-feira, março 11, 2005 

Para os outros


Pus a torturar-me pela falta das palavras
Como um desejo de não ter vida além delas

Mãos quietas

olhar nu

Desimpedida de pensar

não pensava
os antagonismo se auto-construíram
durante o tempo de descanso delas
- as palavras
que me alimentavam de astúcia

Pus a desejá-las
Como uma paz de quem estar além

Mãos insólitas

Olhar ainda sem cores

Acordem, outros desejos

ou ao menos
sonhem!

[Nathalia da Mata]

sexta-feira, março 04, 2005 

De agosto para setembro

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Quando não mais há,
Porque não há o que fazer
A impotência do ser-individual
É profundamente responsável pela porta das lágrimas
Ancoradouros dos lamentos de outrem:
Meus olhos.
Pois só há o que sentir,
Nada para dizer.

São simples consonâncias
É perfeitamente compreensível:
O Homem cria, mata e ama.
Para partir
Usa um recado, um soluço
Para sonhar,
caixas de fósforos
Pois não mais há
Ambições impossíveis

Pois não mais há
Como deter os cruéis

O poder me queimou os dedos

e me escondeu a face
Não há o que fazer.

[Nathalia da Mata]
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quinta-feira, março 03, 2005 

As Esquinas

palavras absortas
o vazio da contra-mão
a beirada dos olhos seguravam as lágrimas
à beirada do mar se perdiam os pedidos

o vazio da arte cega
cuspindo dor de papel
soprando o destino para além
das linhas precisas
do pó

o vazio do pó.

palavras choradas
na entrega
a imensidão se contrasta com a neblina
o vazio do só
das mãos desabraçadas

as esquinas.

à beirada da rua
o mar dependurado
os olhos e o vazio.


[Nathalia da Mata]

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