terça-feira, dezembro 13, 2005 











(Magritte)

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COXIA (ou Fora de Cena)

Fora de cena
nas coxias
só o escuro aparece
Conta-me o cego
a melodia
inverte-me a alma
amiudece.
Tudo que anda de vagar
morreu
O logo enfurece
minha dor
Deixei de lado
o Prometeu
a fome necessária se apossou
do resto de alma
agora, em transe,
escreve mudo
pra outro amor.


[Nathalia da Mata]

domingo, dezembro 11, 2005 

Vai, Ano Velho


(Outro Poeta - Afonso Romano de Sant'Anna)


vai, ano velho, vai de vez
vai com tuas dívidas
é dúvidas, vai, dobra a ex-
quina da sorte, e no trinta e um,
a meia noite, esgota o copo
a culpa do que nem lembro
e me cravou entre janeiro e
dezembro.

vai, leva tudo: destroços,
ossos, fotos de presidentes,
beijos de atrizes, enchentes,
secas, suspiros, jornais.

vade retrum, prá trás,
leva pra escuridão
quem me assaltou o carro,
a casa e o coração.
não quero te ver mais, só daqui a anos,
nos anais, nas fotos do nunca-mais.

vem, Ano Novo, vem veloz,
vem em quadrias, aladas, antigas
ou jatos de luz moderna, vem,
paira, desce, habita em nós,
vem como cavalhadas, folias, reisados,
fitas multicolores, rabecas, vem com
uva e mel desperta
em nosso corpo a alegria,
escancara a alma, a poesia, e por um
instante, estanca
o verso real, perverso
e sacia em nós a fome
- de Utopia.


vem na areia da ampulheta com a
semente que contivesse outra se-
mente que contivesse ou-
tra semente ou pérola
na casa da ostra
como se
se
outra se-
mente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como ovo
o sol a gema do ano novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.

adeus, tristeza: a vida
é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
agora
é recomeçar
a utopia é urgente.
entre flores e urânio
é permitido sonhar.

Agora na íntegra o Maravilhoso e propício poema de Sant'Anna

sábado, dezembro 10, 2005 

Inoperante

[Nathalia da Mata]

um roer de unhas
um ranger de dentes
falta de sorte acumulada
e tristezas, de sobremaneira,
envelopadas para o futuro.
Não há outra luz.
Outra porta
semi-aberta a esperar
apenas um tinir de ferros
um grunhir de almas
e a inarticulação dos sentidos
esmagados como insetos.
Não há.
É mesmo falta de tento
perspicácia inópia!
Sofrer e remoer
os tímidos defeitos
que lhe tiram tudo.
Consolo: a nudez amarga.

sábado, dezembro 03, 2005 

AREIA

Quem sabe no tarde da noite

não haja mais açoites
ao amor
nosso como todo consolo
explicado e entregue em praias
de tarde
em lágrimas alumiadas
espelhadas às margens
de ondas
de mar
Quem sabe no tarde da noite
não haja mais açoites
aos beijos
tão seus como meus inteiros
desejos
imensos e breves
disfarçados sob o vento
deitados na areia
imersos
em si.

[Nathalia da Mata]

 

Vai, Ano Velho


(Afonso Romano de Santana)

"...
vem na areia da ampulheta com a
semente que contivesse outra se-
mente que contivesse ou-
tra semente ou pérola
na casa da ostra
como se
se
outra se-
mente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como ovo
o sol a gema do ano novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.

adeus, tristeza: a vida
é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
agora
é recomeçar
a utopia é urgente.
entre flores e urânio
é permitido sonhar."

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